A infância é a fase mais linda e importante de nossas vidas e nela armazenamos conhecimentos e emoções que, subconscientemente, vão orientar nossos comportamentos ao longo da vida.
Nunca me cansei de ouvir as histórias que minha mãe e meu tio contavam sobre o tempo em que faziam o curso primário com os primos no G.E.Cel Joaquim da Cunha, no início do século XX.
Hercílio Zuccolotto. Raffaini, filho da irmã de meu avô, Emília Zuccolotto Raffaini e de Atílio José Raffaini, de temperamento alegre e comunicativo, era menino esperto e atento a tudo o que acontecia na cidade e, segundo meu tio, “o Nenê não dava chance para que nenhum jornal vingasse em Altinópolis”, pois à saída da escola já comunicava a todos as últimas notícias da paróquia, “com detalhes de jornalista”.
Cresceu forte, jovial e curioso, conhecido por todos da pequena cidade, sendo, contudo, obrigado a deixar pela metade a Escola Normal para trabalhar, na grande crise econômica de 1929, como tantos outros da localidade.
Ao lado do trabalho, o esporte teve lugar cativo na vida de Hercílio! Amante do futebol, como seus irmãos, chegou a comprar o terreno para o AFC e, quando presidente do clube, conseguiu da Cia São Paulo e Minas de Estrada de Ferro a doação do alambrado para o campo.
Trabalhador, com seu irmão Sílvio, ambos apoiados pelo tio Túllio, abriram um posto de gasolina e uma oficina mecânica a qual dirigiram por muitos anos, com competência e eficiência.
Casou-se com a jovem Atilde Agnesini, filha de Baptista Agnesini e de Luiza Crivelenti Agnesini, moça que passou sua meninice na zona rural, tendo vindo estudar no G.E.Cel. Joaquim da Cunha somente aos nove anos de idade. Na época, entre os imigrantes italianos, era hábito privilegiar os filhos do sexo masculino, em todos os aspectos. Assim sendo, com exceção da Atilde, suas irmãs mais velhas permaneceram analfabetas.
Atilde e Hercílio tiveram quatro filhos aos quais dedicaram amor e carinho durante todo tempo em que viveram. Dona Atilde, como a chamávamos, era ótima cozinheira, mulher disposta e prática, tendo trabalhado, incansavelmente, durante 25 anos para alimentar e prover a família do necessário. Minha mãe teve nela uma grande amiga e conselheira!
Não foram poucas as ocasiões em que nos convidou para “um dia da pamonha”, no sítio que haviam comprado. E quanta coisa boa acontecia naquele dia, além das deliciosas pamonhas!
Nenê Raffaini, numa época, abriu com os irmãos o primeiro e único cinema da pequena cidade, o CINE EMÍLIA. Quanta saudade das matinês no prédio antigo e no novo inaugurado com pompa e circunstância!
Aos poucos, por motivo de deslocamentos e distâncias, os contatos interfamiliares rarearam, mas as memórias permanecem vívidas em nossa mente, assim como a saudade desses amigos, em nossos corações.
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