Não saberia dizer se já nasceu dando aula, mas o certo é que a educadora revelou-se logo no comportamento questionador, pesquisador, organizado e solidário da jovem Desdêmona, a mestra do Grupo Escolar Cel. Joaquim da Cunha, durante quase 25 anos.
Filha de Josephina Sabia e de Tullio Zuccolotto nasceu em 1918 na pequena e pacata Altinópolis, ano em que na Europa explodia a primeira guerra mundial. Como herança de seus pais trouxe a energia, a inteligência, a determinação e o espírito crítico.
Seus primeiros estudos foram feitos na cidade natal. Em 1931 seu pai, imigrante italiano determinado a dar uma formação de muito bom nível a seus 3 filhos- Afrânio, Desdêmona e Milton – mudou-se para São Paulo, onde permaneceu durante 5 anos. Os 3 filhos estudaram nas melhores escolas da capital, tendo Desdêmona recebido seu diploma de normalista na escola Normal do Brás, com apenas 17 anos.
Após a morte da esposa, Tullio retornou à sua amada terra adotiva com sua filha Dedê. Afrânio, já advogado pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco, permaneceu em São Paulo e Milton foi cursar medicina no Rio de Janeiro.
Completados os 18 anos, Dedê começou a lecionar, substituta primeiramente, em escolas rurais para as quais viajava diariamente em charretes; algumas vezes chegou a residir nas casas dos próprios fazendeiros.
E a vida transcorria ora calma, ora com pequenos contratempos, até quando teve um problema renal grave que a fez afastar-se de suas atividades profissionais para ir curar-se numa estação de águas, a terapia própria da época.
Sebastião de Figueiredo Moura, O “Filhinho”, nesta época já era seu namorado e, como futuro marido, foi um permanente apoiador de suas atividades. Alegre, tranquilo, amava a música e, com muita doçura equilibrava o excessivo trabalho da professora Dedê que não media esforços, tempo e dedicação para atingir o nível de excelência que pretendia oferecer aos seus pupilos do Grupo Escolar, e aos próprios filhos.
Quanta poesia ela leu para os mais jovens, na escola e fora dela, com a emoção necessária ao desenvolvimento da sensibilidade e a apreciação dos grandes mestres da língua! Quantos “long plays” de grandes compositores adquiriu no exterior, ouviu e fez ouvir para a expansão do universo musical daqueles sob seus cuidado! Tantas vezes, noite alta, debruçada sobre o “Semanário” planejava as aulas e corrigia provas.
Como professora de 4° ano, durante muitos anos participou do grupo que planejava e executava exposições, assim como festejos de fim de ano, muito comuns à época. Entusiasmada, passava horas folheando revistas e álbuns na ânsia de encontrar propostas originais que pudessem dar mais brilho aos eventos.
Houve uma época em que foi enviada pela direção do G.E. Cel. Joaquim da Cunha à capital do estado para fazer um Curso de Merendeira. Era o início da instituição do lanche fornecido pela escola. A partir daí, as crianças da escola, assim como de sua família, passaram a comer somente alimentos saudáveis e as guloseimas foram retiradas do cardápio.
Faz-se necessário dizer que D. Dedê, assim como tantas outras professoras dedicadas ao ofício de ensinar, por vocação e vontade, fez enormes sacrifícios pessoais os quais, muitas vezes, lhe trouxeram problemas de saúde, pois a sociedade da época não abria mão dos “deveres da mulher” enquanto esposa, mãe e responsável espaço da casa.
Aposentou-se relativamente nova, perto dos 50 anos, quando então se dedicou a desenvolver seus dotes artísticos: a literatura e as artes plásticas. Pintou em todos os suportes, fez cerâmica e conviveu com amigas que lhe trouxeram muita alegria, durante anos. Escreveu muita poesia, uma biografia de seu pai e um delicioso livro sobre Altinópolis “A História e as Estórias de Minha Cidade” livro este que, no concurso promovido pela Fundação Faria Lima “Conte a História de sua cidade”, em 1986, ganhou o 2° prêmio “Estilo e Criatividade”.
Dona Dedê conviveu bastante com seus filhos e netos, viajou pelo mundo, mas sua querida Altinópolis nunca quis abandonar. À terra natal dedicou um dos seus mais belos poemas o qual, hoje, é o Hino oficial da cidade, com música de Gilda F. Montans.
Faleceu em 2004, aos 86 anos de idade, deixando aos filhos e netos a lembrança honrosa de uma mulher diferenciada e consciente, determinada a lutar por um Brasil melhor.
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